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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Há coisas eternas..... Escritas de amor !



É provável que a origem dos "lenços dos namorados" ou "lenços de pedidos"esteja nos lenços senhoris do Séc.XVII-XVIII, adaptados depois pelas mulheres do povo, dando-lhe consequentemente um aspecto popular característico.




Antes de tudo, eles faziam parte integrante do trajo feminino e tinham uma função fundamentalmente decorativa .
Eram lenços geralmente quadrados, de linho ou algodão, bordados segundo o gosto da bordadeira.





Mas não é enquanto parte integrante do trajo feminino que nos interessa o seu seu estudo, mas a sua função não menos importante , e da qual lhe vem o nome : a conquista do namorado .







A moça quando estava próximo da idade de casar confeccionava o seu lenço bordado a partir de um pano de linho fino que porventura possuía ou dum lenço de algodão que adquiria na feira ,dos chamados lenços da tropa .
Para realizar esta obra , a rapariga utilizava os conhecimentos que possuía sobre o ponto de cruz , adquiridos na infância,aquando da confecção do seu marcador ou mapa .

Depois de bordado , o lenço ia ter às "mãos do namorado"ou "conversado" e era em conformidade com a atitude deste de usar publicamente o lenço ou não , que se decidia o início duma relação amorosa .

Os lenços carregam consigo, por isso os sentimentos , amorosos duma rapariga em idade de casar, revelados através de variados símbolos amorosos como a fidelidade, a dedicação , a amizade etc...
Estes lenços eram originalmente em ponto de cruz. e por ser um ponto trabalhoso obrigava a bordadeira a passar, durante muitas semanas e mesmo durante muitos meses de serões na sua confecção.
Como a escassez de tempo passou a ser um facto na vida moderna, a mulher deixou de ter tanto tempo para a confecção destes lenços, o ritmo da vida tornou-se mais intenso e a mulher teve que solucionar este problema adoptando no bordado outros pontos mais fáceis de bordar.

Com esta alteração outras se impuseram no trabalho decorativo dos lenços de namorados : o vermelho e o preto inicial vai dar origem a uma grande quantidade de outras cores, e com elas novos motivos decorativos se impuseram .
Os lenços não deixaram porém de ser ainda mais expressivos , acompanhados muitas vezes de quadras de gosto popular dedicados aquele a quem era dirigida tão grande fantasia :O Amado.
Bem hajam
Carlos Fernandes
A nossa homenagem:
São pedras vivas da Terra Verde , deste Verde Minho.
Fazem parte integrante da Terra do Vento, das Sementes e das Pedras que rolam nos ribeiros .
São o tear a agulha e a linha com que bordam este Verde Minho, são a verdadeira Luz deste nosso Portugal .
Dedicado : Aliança Artesanal , cooperativa interesse público responsabilidade l-º
Vila Verde -Portugal


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

"Somos do povo e como ele devemos viver " Palácio de Belém .


"Somos do povo e como ele devemos viver". Esta frase de Teòfilo de Braga proferida a 24 de Outubro de 1910, dá o tom para o que viria a ser a relação da I República com o Palácio de Belém .
Para marcar a diferença em relação à monarquia, não existia uma residência oficial e a própria Constituição de 1911 proibia o uso das propriedade e imóveis da Nação para cómodo pessoal do Presidente da República ou de sua família, outros temos outras mordomias .
"Somos do povo e como ele devemos viver ".Não admira pois.que o primeiro Presidente da República e os seguintes pagassem ao Estado uma renda de Cem escudos mensais para viverem em Belém, sabe-se que em 1923 aquando da presidência de Manuel Teixeira Gomes a dita renda já ia em Três mil escudos,  outros tempos outras mordomias .



O núcleo principal do Palácio de Belém foi construído em 1559 pelo fidalgo D. Manuel de Portugal proprietário da quinta que será dada ao 2ª conde de Aveiras incluída no dote de Dona  Joana Inês de Portugal , sua noiva. Em 1726 D. João V  compra a propriedade que passa a chamar-se Casa Real de Campo de Belém . É para lá que vão os muitos animais exóticos que o rei recebe de presente, como elefantes e zebras , ficando expostos ficando em jaulas no ainda hoje conhecido como o Pátio dos Bichos .
Palácio Nacional de Belém - Pátio dos Bichos: corpo central com a cascata de Hércules

A família real começa a passar temporadas no palácio e é lá que se encontra no dia 1 de Novembro de 1755 quando o terramoto destruiu  Lisboa .Por estar localizado sobre as rochas vulcânicas do complexo basáltico de Lisboa, o palácio escapou à tragédia .
Com D. José o palácio conheceu o horror, diz-se que os aristocratas condenados no célebre processo dos Távora terão pernoitado nas jaulas do Pátio dos Bichos, na noite anterior à sua execução pública em Belém, tendo sido depois os seus corpos queimados e as cinzas lançadas ao Tejo.

A execução dos Távora 
Já no reinado de Dona Maria I o palácio é sobretudo palco dos grandes bailes oferecidos pela rainha, torna-se também o local de alojamento de hóspedes estrangeiros ilustres.
Até que em 1910,o Presidente da República do Brasil, marechal Hermes da Fonseca está alojado em Belém e ao oferece ao rei D Manuel II um banquete , no dia 3 de Outubro . Será este o último evento da monarquia .

"Somos do povo e como ele devemos viver ". Hoje uma frase em vão ,continua residência oficial do presidente , diz-se por aí que os seus custos são bem mais elevados que algumas monarquias Europeias . Novos tempos novas mordomias 
Bem hajam 
Carlos Fernandes




segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Espigueiros,canastros,caniços ou hôrreos . Aqui há rato !


O espigueiro, também chamado canastro,caniço ou hôrreo, é uma estrutura normalmente de pedra e madeira, existindo no entanto alguns inteiramente de pedra, com a função de secar o milho grosso através das fissuras laterais, e ao mesmo tempo impedir a destruição do mesmo por roedores através da elevação deste. Como o milho requer que seja colhido no Outono, este precisa de estar o mais arejado possível para secar numa estação tão adversa como o Inverno.


 Construídos inteiramente em pedra, os 24 espigueiros do Soajo encontram-se “reunidos a esmo no cimo do penedo” – um longo afloramento granítico que além de acolher estas tradicionais manifestações da arquitectura do mundo rural, destinadas à armazenagem e secagem do milho, reserva também um vasto e fundamental espaço central: a eira comum.
Se a grande concentração de espigueiros é factor fundamental da imponência deste conjunto, não é menos verdade que muita da sua monumentalidade resulta do facto daquele afloramento ser bastante alto, convertendo-se numa autêntica “defesa natural” que salvaguarda aquelas construções dos animais, particularmente das galinhas, e dos incêndios.

Mas, foi um outro perigo, uma outra praga, que terá feito surgir entre nós os “espigueiros”. Não possuíam, contudo, então esta designação. Até porque as “espigas” do milho maíz, que estão na origem da sua denominação, só foram introduzidas na região no século XVI, após a descoberta das Américas, de onde é originário aquele cereal.


 Indiscutível parece ser também que na origem destes “celleiros” ou “celarios” esteve, efectivamente, uma enorme e permanente praga da região: os ratos. Com efeito, para lá da sua clara função de armazenagem e secagem ventilada, é evidente nas suas características e no engenho construtivo a preocupação que estas estruturas denotavam em resguardar o cereal daqueles roedores. Uma das estratégias mais habituais, e perfeitamente visível no Soajo, é a colocação de grandes pedras circulares entre os pés e o restante corpo dos espigueiros, constituindo um obstáculo intransponível para os ratos que possam ter subido na vertical ao longo das pernas da construção. Grande parte dos espigueiros deste conjunto utilizou, para esse fim, velhas mós de moinhos.

A grande abundância de ratos no noroeste da Península Ibérica, já mencionada por Estrabão no início da colonização romana – e que levou mesmo, na Cantábria, a que as autoridades romanas premiassem quem os matasse – só começou a ser atenuada na Baixa Idade Média com a vulgarização do gato doméstico.
Mas, nem só os ratos explicam a génese destas típicas estruturas de armazenagem. Os factores climáticos, nomeadamente a forte humidade do noroeste peninsular, foram também fundamentais no aparecimento destas construções que, embora fechadas e bem resguardadas dos agentes climáticos adversos, permitiam uma boa secagem e, em simultâneo, o armazenamento do milho em boas condições, que passavam, entre outras, por uma ventilação adequada.

O facto do milho em grão, guardado em caixa, não se conservar em média mais do que um ano, enquanto na espiga pode conservar-se durante anos, terá contribuído, fundamentalmente após a introdução do milho maiz, para algumas mudanças operadas nos espigueiros, de que são exemplo um crescimento das suas dimensões e o aparecimento de características arquitectónicas mais duradouras que, como aconteceu no Soajo, resultou mesmo na sua total petrificação. Paulatinamente, e de forma mais notória a partir do século XVIII, estes espigueiros acabaram por fazer desaparecer – já na segunda metade do século XX – os canastros ou caniços, “celeiros” mais primitivos e construídos na sua totalidade com elementos vegetais. Os últimos canastros do Soajo, que se implantavam ao lado dos espigueiros, feitos de verga de carvalheiras, eram ainda visíveis há cerca 20 anos.

Mas, se é verdade que os 24 espigueiros do Soajo acabam por constituir uma das maiores concentrações de espigueiros exclusivamente em pedra existentes no país, outros conjuntos há que, pela abundância e diversidade de tipologias que albergam, merecem também uma referência. É o caso, a uma dezena de quilómetros de distância do Soajo, do agrupamento de espigueiros do Lindoso. São 64, reunidos num curto espaço, embora não tão monumental quanto o do Soajo. Constituindo, provavelmente, o maior conjunto do país, os espigueiros do Lindoso dividem-se em diversos tipos, desde os que são exclusivamente em pedra a outros que combinam de diversos modos diferentes materiais, nomeadamente o granito, a madeira, a lousa e o tijolo. Tal como no Soajo, estes espigueiros concentram-se em torno de uma única e rectangular eira, testemunhando assim a importância do trabalho colectivo que tão intrinsecamente caracterizou estas comunidades de montanha durante séculos

Bem hajam 
Carlos Fernandes