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sábado, 29 de março de 2014

Carreira 1960 "Que vida boa era a de Lisboa " (Capitulo III )

Bordel de luxo Madame Blanche 
(Continuação)
Depois da tempestade a bonança,Lisboa fervilha de novas emoções, a Feira Popular abre portas em 1962,  para contentamento das suas gentes,serão os concursos de mini-saia, as rainhas da rádio, os combates de boxe , onde Belarmino seria o rei, iriam ser o tema de todas as conversas dos alfacinhas . Também a outra Lisboa boémia marginal e escondida, continuava em ascensão. Carreira 1960 destino a Lisboa do pecado !!
Esquinas becos e ruelas 
Não , não eram praxes , à época ,o ritual de iniciação na vida adulta, passava pelo baptismo, a que a rapaziada, mais nova era sujeita pelos amigos , familiares mais velhos, numa só frase a ida" ás meninas "..Assim um dos destinos era o primeiro andar do número 63 da Rua da Glória, onde moram criaturas que nem imaginam a reminiscência do local.O bordel da Madame Blanche com fama de ser perito em prazeres capazes de ressuscitar impotentes. Todavia, em dias de frágil imunidade, também punha homens a caminho da farmácia para comprar frascos da descoberta de Fleming, que vida boa era de Lisboa .
Salazar que não entendia de penicilina, obrigava as "meninas"a ir ao governo civil para testar a saúde .
Pressionado, pela igreja pelos brandos costumes,a 19 de Dezembro de 1962 o decreto de lei nº 44579 proíbe a prostituição .escusado será dizer que "Nunca saiu do papel ", pelo contrário teve o efeito inverso, pois como diz o aforismo "fruto proibido é mais apetecido".
No fundo o Antigo Regime, considerava a depravação útil para escudar a moral . Sempre a bem da Nação, um homem que ia às "meninas" não andava a desonrar donzelas, e não desviava casada para o travesseiro alheio. Sempre assim foi, quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga,"esquentamentos", cancros moles, pediculose pública, sífilis, mas para a frente," é que é Lisboa" e isso nunca matou ninguém .
A bem da moral
Felicidade no Bairro Alto, um destino, a rota prometida, o chamado na gíria "Bairro do Bife " antigo epicentro da depravação e prazer.O nª 142 da Rua do Diário de Noticias, e o nª 5 da rua da Barroca ou o 8 da Travessa Água Flor, entre a década de 60 e finais do anos 70, metamorfosearam  tansos em potentes felizes, que vida boa era a de Lisboa. Dessa felicidade não sobrou um tijolo,já o mesmo não se poderá dizer do famoso 100 da vetusta rua do Mundo , hoje Rua da Misericórdia.
O séquito Salazarista adorava a corte prostituta.Ministros , secretários conselheiros de estado, eram personagens assíduas, no bordel mais afamado da capital "Madame Calado", casa fina e afamada , situada numa rampa ao lado da estação do Rossio, oferecia moçoilas da província (Beiras e Norte) sem vícios e com muito amor para dar, apregoava a madrinha Calado,como cabeça de cartaz pela primeira vez em Portugal, Bia uma açoreana de cara redonda, cabelo ruivo, peitos cheios, pernas torneadas e traseiro avantajado, um sucesso , um Monumento!!!
Mas enganem-se os mais cépticos, o mercado era diversificado, para os de menos posses , havia sempre a possibilidade de uma visita à casa da Ilda, bordel baratucho que apesar de não ter grandes monumentos , tinha mulheres disponíveis, também ele de bom acesso , paredes meias com a Igreja de São Roque, que vida boa era de Lisboa . Para aquelas que já tinham atingido a emancipação, as esquinas, ruelas e becos eram o cenário, desde a parte sul da Avenida da Liberdade, Cais Sodré , Técnico , Intendente ,Rua da Betesga etc,,,  eram mercados em ascensão .
Bordel Madame Calado 
Desde doutores, ministros, operários, mangas de alpaca, todos se cruzavam na mesma noite , nos mesmos lugares,deleitavam-se com as mesmas mulheres,e todos estavam conscientes, que os prazeres do sexo tinham um custo , que poderiam ir dos vinte cinco escudos aos quinhentos escudos .
Pastelaria Suiça-Rossio
No que à homossexualidade dizia respeito,oficialmente não se podia ser . No discurso nem existia .Mas na prática era comum. Quer para o povo,assíduo nos urinóis, estações e docas, preso e humilhado pela policia : quer para as elites sociais e culturais que viviam a sua sexualidade numa tolerância envergonhada.
Além do mundo dos salões da classe alta, os intelectuais, no inicio dos anos 60,começam a viver a sua homossexualidade com mais naturalidade. São pontos de encontro, a cervejaria Reimar na  Rua do Telhal onde se misturava a elite e o povo homossexual .Também cafés como o Monte Carlo , Monumental,o Tony dos Bifes a Pastelaria Paraíso, na Avenida Alexandre Herculano, a Suiça , Brasileira no Chiado são locais de encontro.
Príncipe Real -Lisboa 
Quanto a lugares mais recatados, e de encontro nocturno,mais frequentados são o Bar Z no Príncipe Real onde hoje é o Harry`s, O Barbarella na Rua da Atalaia , o Insólito o Antiquário, e as célebres matinés para lésbicas do Gato Preto Gato verde, hoje Memorial , um pouco mais tarde abria o Bric a Brac, a catedral dos homossexuais, que rica vida era a de Lisboa .
É da época o denominado pelas gentes do norte, o Passarinho do Rio, a Bernardete para os alfacinhas , aristocrata com lugar seguro na Avenida da Liberdade, com fama de ter dormido com o maior numero de homens que havia memória, personagem frequente nos urinóis do Rossio.
Cais Sodré -Lisboa 1960
     Bem Hajam
Carlos Fernandes

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