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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Os cesteiros

Os cesteiros trabalham, geralmente, em dependências das suas casas. Estas, tanto podem ser uma parte do andar térreo, sobre o qual se ergue o resto da habitação, como um pequeno espaço independente, construído para ser a oficina. Embora já existam casos em que se percebe a preocupação de conseguir algum conforto no espaço oficinal, a regra, mesmo nas novas construções é a de uma enorme falta de qualidade: não existem janelas, a luz natural entra pela porta de acesso, que comunica com o exterior o que, considerando a duração e características da estação fria, diz muito da penosidade do trabalho de cesteiro. Os interiores das oficinas raramente estão rebocados ou pintados. O cesteiro, que trabalha com materiais rijos e fibrosos, raramente usa luvas, pelo que as suas mãos estão muitas vezes cheias de cortes. A dureza dos materiais exige que, para poderem ser utilizados, sejam mergulhados em água, o que acentua, sobretudo no Inverno, o frio e o desconforto do ofício.

É neste interior, gelado muitos meses no ano, onde a luz escasseia e não existem salamandras ou qualquer sistema de aquecimento, que as mãos do cesteiro transformam a matéria prima numa produção que, mesmo quando é robusta, é sempre elegante. Para além do vime trabalhado inteiro ou "rachado" (com auxílio da "rachadeira" um caule dá origem a três ou quatro bocados, cortados longitudinalmente) o cesteiro utiliza, nas peças de mobiliário ou naquelas que exijam maior robustez, estruturas de madeira, muito simples, feitas por carpinteiro. A oficina raramente apresenta mais do que os diferentes molhos de vime, se- parados pelo respectivo calibre e qualidade (mais fortes, mais finos, com mais nós, mais compridos, mais cónicos, etc.) e o local onde o cesteiro trabalha definido pelo assento, baixo, e, ao lado, pela a mesinha de apoio, onde se dispõe uma escassa ferramenta: o furadouro, o martelo, pregos de vários tamanhos, a tesoura de podar, o "endireita toros", as "rachadeiras".

É ao carpinteiro que o cesteiro encomenda os moldes que precisa para trabalhar. Nem todos os cestos são feitos com o auxílio de molde, "formas", na terminologia de Gonçalo. Segundo alguns cesteiros os modelos mais antigos de Gonçalo serão aqueles "tecidos às mãos", em que o cesteiro trabalha, no mesmo movimento, vários caules, inteiros, de vime. Talvez que a designação da fantástica "mala de forma" denuncie ter sido o primeiro cesto a ser feito com auxílio de molde. A mesma "mala de forma" é, tal como muitos outros produtos de Gonçalo, tecida a "Liaça", uma espécie de fitas de vime, resultado do trabalho da "rachadeira " que abre os caules em três ou quatro bocados, os quais são depois "calibrados", ou seja achatados, por uns cilindros, numa máquina própria (a fieira).

É nesta oficina austera que as mãos do cesteiro "erguem" os cestos que agora tem dificuldades em colocar no mercado. "As pessoas deixaram de os comprar" dizem-nos entre o espanto e a perplexidade.
Ti Celestino Carviçais
Bem hajam 
Carlos fernandes

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